quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Navio dos horrores"

Erik Azevedo

“Morte de Cadete de Náutica é apenas a ponta de um sujo iceberg”. Assim é o titulo de um noticiário internacional.

Safmarine Kariba, por fora branco como um iceberg, mas por dentro horrores ocorriam

Como muitos jovens Akhona Geveza teve seu próprio Facebook, mas ao contrário de muitos jovens ela era uma marinheira, e assim a oportunidade de atualizar sua página veio poucas vezes e em momentos distantes entre si. Seu suicídio aos 19 anos de idade, duas semanas antes de completar seu período de treinamento inicial no mar para então começar a sua carreira como uma aluna no curso para Oficial de Náutica, isto significa então que sua página vai ficar em silêncio, mas o silêncio não é uma opção para aqueles que procuram a justiça para a jovem.

Em 25 de Janeiro, no Facebook, Akhona Geveza escreveu: “Ey gudpeople 2day is my last day in South Africa *crying* sometymz in lyf have to choose btwn the ones we love and education.anyway i love you all guys i wll miss u you all.” No mes de Março ela faz sua ultima aparição: “enjoying my time in Korea,missing u all” - (transcrito conforme na integra)

A Autoridade Portuária Nacional Sul Africana -Transnet, informou que a cadete estava fazendo seu treinamento a bordo do navio porta-contentores, Safmarine Kariba – E foram dar falta dela em torno do meio-dia do dia 24 de Junho. Após uma busca de duas horas, seu corpo foi encontrado no mar pela polícia local perto do porto de Rijeka, na Croácia, onde o navio estava atracado.

Coroa de flores ao mar, em sinal de ultimo adeus

Um serviço memorial foi realizado a bordo do Safmarine Kariba na sexta – feira, 25 de junho de 2010. As maquinas do navio foram paradas logo após o navio ter zarpado do porto de Rijeka, local onde a Senhorita Geveza foi encontrada morta. Os tripulantes se reuniram na asa do passadiço, e o apito do navio soou durante um minuto de silêncio, e a tripulação lançou uma coroa de flores ao mar em memória da Srta. Geveza.

Jornais Sul Africanos posteriormente relataram queixas que ela havia dito a um colega, que havia sido violada pelo Imediato do navio, um ucraniano. Outros cadetes foram citados fazendo acusações de estupro masculino e feminino, gravidez e assédio moral e assédio sexual.

A Safmarine diz: “Tão logo tomou conhecimento das acusações relativas a Sra. Geveza, Safmarine destituiu o Imediato a bordo do navio de suas funções…

… a Safmarine não é a único armador a fornecer vagas para treinamento de sul-africanos e estamos, portanto, mais preocupados que o artigo do Sunday Times erroneamente pode deixar a impressão de que todas as alegações sexuais mencionados no artigo ocorreram em navios da Safmarine. Isso não é o caso. “

Entre as alegações feitas pelo jornal sul-africano Sunday Times, são as seguintes:

“Vários cadetes no programa de estudos marítimos, falando ao jornal The Sunday Times, na condição de anonimato, disseram que houve abuso sistemático de poder por oficiais superiores, que ameaçavam as carreiras dos cadetes se não realizarem atos sexuais. As alegações de abuso sexual incluem alegações tais:

* Dois cadetes do sexo masculino foram estuprados por Oficias Superiores, enquanto no mar;
* Uma cadete feminino sofreu dois abortos, devido à estupro enquanto no mar;
* Três formandos do sexo feminino estavam grávidas no final da sua estada de treinamento de 12 meses;
* Um cadete masculino foi enviado para casa um mês antes de terminar o seu programa, porque ele se recusou a ter relações sexuais com um oficial sênior e
* Um cadete feminino teve um filho com um Sul Africano casado, e executivo da Agência de Segurança do Trabalho Marítimo, depois que ele forçou-se sobre ela e ameaçou cancelar o contrato, sem que ela contasse a alguém.

Disse uma uma ex cadete feminina: “Quando chegamos a bordo do navio, havia 10 mulheres, e fomos informadas de que o capitão é o nosso Deus, ele pode realizar casamentos, batizar você, e até mesmo enterrar você sem a permissão de ninguém. Fomos informados de que o mar é terra de ninguém e que o que acontece no mar, fica no mar”.

Dito por outra ex-cadete feminino: “Era como se fôssemos despejados no meio de um circo de horrores.”

Um ex-cadete masculino, que foi supostamente estuprado disse: “Eu realmente não quero falar sobre isso. Coisas ruins estão acontecendo no mar e eu sou uma das vítimas.”

Como a mulher Africana trabalhando em uma indústria dominada por homens, em certo sentido, é um pioneirismo. Nos últimos dois anos 15 mulheres se formaram a partir do programa da Transnet, 14 das quais ainda estão no mar.

Diz um contribuinte na página do Facebook em memória: W’l 4ever b proud of u sisi, u broke da boundaries. showing dat even f u’r a village gel, da sky s da limit. u r da inspiration”. (a pagina do Facebook somente pode ser visualizada por quem faz parte do site de relacionamentos).

Informações sobre o desenrolar do caso

Como o M/V Safmarine Kariba é um navio registado no Reino Unido (Bandeira Britânica) e a Nautilus Internacional* apelou para o governo do Reino Unido para assegurar que haja uma investigação completa e transparente sobre a morte de Akhona e as alegações posteriores de estupro e assédio.

Safmarine Kariba, é um navio de bandeira Britânica, logo as autoridades da bandeira devem obrigação de investigar tais fatos, foto Dragec

O secretário-geral da Nautilus, o Sr. Mark Dickinson diz que o caso deve servir como “um Despertador” para a indústria de transporte marítimo internacional. “Os relatórios são profundamente chocantes e são muito graves e é imperativo que todos os esforços de investigar e aprender com isso como uma questão de urgência”, acrescenta.

«“É essencial para a indústria do transporte marítimo, e para o registo do Reino Unido que nenhum esforço seja poupado para estabelecer a verdade dos fatos alegados e – se for verdadeira – para assegurar que sejam tomadas medidas adequadas”, afirma o Sr. Dickinson.

As reivindicações feitas correm o risco de colocar a questão da igualdade de oportunidades décadas atrás”, adverte. “Portanto, é fundamental que deve haver transparência e não acobertamento e que as autoridades e os armadores respondam de forma construtiva e empenhada.”

Sr. Dickinson diz que a pesquisa de uma década atrás da Nautilus mostra sérios problemas de assédio sexual no transporte. Como resultado, o sindicato desenvolveu políticas da Igualdade de Oportunidades com a Câmara de Marinha Mercante do Reino Unido, e estas foram posteriormente retomadas em toda a União Europeia.

O sindicato também está contatando o ministro dos Transportes do Reino Unido e o secretário de estado, para destacar a necessidade de a Grã-Bretanha a desempenhar um papel de liderança na investigação criminal nestes incidentes. A Nautilus está a revendo as suas disposições já existentes para permitir aos seus membros, relatar problemas à bordo de navios, e também se aproximou da Câmara de Navegação (Chamber of Shipping) para discutir quais as formas que a indústria Marítima, pode reavaliar as suas políticas de igualdade de oportunidades e garantir que as lições sejam aprendidas com o caso de Akhona Geveza .

“Estamos decididos para que este incidente não seja varrido para debaixo do tapete e que algo de bom possa vir desta trágica perda de vidas,” diz o Sr. Dickinson.

“Temos uma taxa de abandono de 30% entre os jovens que entram na Indústria Marítima, e nós realmente precisamos fazer de tudo para que o assédio moral, assédio sexual e a discriminação, não sejam mais tolerados no transporte marítimo e que todos os marítimos, independentemente de sexo, orientação sexual e raça, não serão tratados de maneiras que nem sequer eram aceitáveis há 100 anos atras. “

Transnet estabeleceu uma comissão de inquérito independente e a polícia sul-Africana também esta investigando, separadamente.

No entanto, ainda não há notícias de uma investigação pelas autoridades britânicas.

Uma vibrante jovem de 19 anos é morta, isto é apenas a ponta de um iceberg particularmente desagradável. A Indústria Marítima, tem o dever de cuidar destes jovens e é hora de levarem este dever mais à sério.

Conforme: gCaptain

* A Nautilus International- É um sindicato marítimo fundado no Reino Unido, mas que defende os interesses de marítimos e organizações empresariais marítimas, ao redor do mundo em parceria com a ITF.

Nenhum comentário:

Postar um comentário